quinta-feira, 16 de abril de 2020

O que vejo da janela da sala

O passarinho no jardim só quer aproveitar a calmaria. E encontrar insetos para que possa alimentar seus filhotes no ninho.
O gato na janela só quer ver passar o tempo, do jeito que lhe é peculiar.
O cachorro no quintal observa o pouco movimento e torce para que uma moto passe tirando-lhe o sossego.
A mãe em casa só quer adiantar o serviço que nunca termina. E descansar uns quinze minutos sem ser solicitada por ninguém.
As crianças querem agitação. E agora se contentam com o fato de não fazerem lição ou irem à escola.
E assim a vida segue.
Uns em casa.
Outros na rua.
Muitos agradecendo.
E também alguns reclamando.
Necessidades individuais muitas vezes sobrepondo as necessidades coletivas.
Egos inflados que não percebem o seu semelhante.
Não deveria ser assim. Poucos usufruindo de muito. Muitos tendo apenas o mínimo.
A maior diferença está nas atitudes de cada um.
Poucos agradecendo o muito que possuem e dividindo o que tem.
Muitos agradecendo o pouco que tem e mostrando solidariedade a quem precisa.
Nos momentos de crise percebemos o valor dos gestos, das falas e das posturas.
Cada qual mostra o melhor ou pior de si mesmo.
No jardim da vida, nem tudo é flor.
Quando tudo passar, que criem raízes os bons exemplos e floresçam as boas atitudes. 
Que sequem as ervas daninhas. E possamos plantar somente o que nos faz bem. 






segunda-feira, 13 de abril de 2020

Um amor felino


O Amarelo nasceu na garagem de casa, filho de uma gata que andava pelos arredores e que acabou sendo adotada também. Da ninhada de cinco gatos, ficamos com três. Íamos chamá-lo de Tigrão, mas era tão medroso, que não combinava. Quando alguém chegava na minha casa, se escondia atrás da geladeira.


Ele foi um gato super amoroso, ficou conosco por 19 anos. Partiu ontem, no domingo de Páscoa. O único domingo de Páscoa que não passei com minha mãe, por conta da necessidade de isolamento social que estamos vivendo. Ele estava magrinho. Já não conseguia se equilibrar direito. Mas respondia com seu miado quando falávamos com ele.

Era daqueles gatos que você não podia manter contato visual porque ele vinha em sua direção e não parava mais de pedir carinho.

Minha amiga falava que ele era o gato Highlander, porque era imortal. Na verdade, já tinha passado por uns maus bocados.  Ele ficou aleijado, infelizmente. Alguém deu uma paulada, na coluna. Só percebemos porque ele chegou em casa cambaleando e depois, parou de andar. Fizemos o tratamento ,mas ele ficou com sequelas. Ele andava se apoiando em três patas. Uma pata da frente ficou enrijecida, não dobrava. A pancada atingiu a medula óssea, causando a paralisia parcial. Na época o veterinário disse que amputar seria uma solução. Mas, o bichinho já tinha sofrido tanto e não faria muita diferença .
Decidimos mantê-lo assim. E ele subia e descia escadas, pulava no sofá, corria do jeito dele.. só não podia sair na rua porque ainda queria brigar.


Antes disso de tudo isso acontecer, ele já tinha sido envenenado. Conseguimos salvá-lo porque ele tinha gastrite e vomitou parte do veneno. A irmã Esmeralda não teve a mesma sorte.  ( Hoje percebo a importância de se criar os animais dentro de casa, a criação indoor, mas antes eu não entendia a dimensão dos problemas que podem ocorrer na rua)  Eu não sei o que leva uma pessoa a matar ou maltratar animais. Não consigo conceber a ideia de envenenar uma animalzinho porque não gosta dele. É muita crueldade. Tem que ter muita maldade no coração para envenenar um bicho e ficar vendo ele morrer, ou torcendo para isso. Eu amo os bichos. E dispenso o maior amor que posso a eles. Quem maltrata um animal é alguém que ainda não aprendeu a amar.

Foram quase 20 anos compartilhando momentos em família. E eu nem sabia que os gatos podiam viver tanto assim. Que privilégio pudemos ter. Ele foi um anjo de quatro patas que nos presenteou com seus miados, ronrons e olhos apaixonados. Vou guardar na minha memória e no meu coração.

                     Vai, Amarelo, brincar com as estrelas e ronronar nas nuvens de algodão... 


sexta-feira, 10 de abril de 2020

O lugar que a saudade ocupa. . .

Hoje eu estava descascando batatas e de repente me lembrei da minha avó.
Ela não descascava como eu, que tiro uns pedações da batata dependendo da pressa. Ela retirava a pele da batata, ficava linda. Mesmo com as mãos atrofiadas pelo reumatismo que a castigou por décadas, enquanto pode descascar, o fazia com perfeição. 
Minha avó fazia alguns pratos que somente ela sabia fazer, pastel de forno e um frango cor de laranja maravilhosos. Que baita saudade me dá. 
Na mesa da cozinha da minha avó , conversávamos e nos reuníamos sempre. Lá aprendi a tomar café puro. Hoje um vício. 
 No quintal dos fundos da casa passei boa parte da infância. Lembro da horta, das rosas, das hortênsias e palmas. Da vontade de entrar no barracão que ficava atrás do galinheiro e fuçar nos livros, malas e recordações antigas. 
Lá nunca teve campainha. Tínhamos que bater palmas quando chegássemos. Mas preferíamos gritar. Tinha uma papagaio na casa ao lado que quando gritávamos, ele gritava também : Ôôô, Vóóóóó! 
Lá também aprendi a gostar de gatos. E de plantas. Embora não seja muito boa com plantas, me dou muito bem com gatos. Minha avó teve tantos que até perdi a conta. E o engraçado, os gatos que moravam na casa dela eram só machos. Só hoje me dou conta disso. 
Eu e minha irmã temos muito boas lembranças. 
Gostaria de voltar no tempo e ouvir suas histórias. Ouvi muitas, vivi tantas, mas queria mais. 
Que saudade, vó. Que os anjos estejam fazendo companhia e alegrando seus dias no alto.
Beijos e abraços apertados. 


quinta-feira, 9 de abril de 2020

Teimosia

Daqui do meu umbigo, só vejo o que eu quero.
Eu sempre tenho razão.
Sou mais esperto do que os outros.
Vejo o que ninguém vê.
Falo com convicção.
Bato o pé para provar minha resistência.
Não me canso diante de um negativa.
Estou a frente de suas respostas.
Calculo tudo que será dito.
Sempre tenho respostas.
Elaboro.
Contorno.
Reitero.
A palavra mais importante é a minha.
Faço birra senão quiser me ouvir.
Bato o pé.
Bato boca.
Não me calo.
Falo. 
Falo.
Falo.
Posso estar errado.
Mas venço pelo cansaço.


quarta-feira, 8 de abril de 2020

Amor liberta. 
Paixão prende.
Amor é calmaria.
Paixão é tempestade.
Amor é admiração.
Paixão é vaidade.
Amor é voar num céu tranquilo.
Paixão é queimar em brasa.
Amor é abnegado.
Paixão é egoísta.
Amor é um abraço doce.
Paixão é um beijo que arde.
Amor é luz.
Paixão é chama. 
Amor é escolha.
Paixão é entrega.
Amor é caminhar de mãos dadas.
Paixão é encontro fortuito. 



domingo, 5 de abril de 2020

Sobre livros e sobre a vida. . .

Amo ler. Desde pequena. Cresci devorando livros.
Minha alegria era descobrir novos mundos, visões e versões de histórias. Apaixonar-me por um personagem e torcer para que seus caminhos fossem de sucesso ou chorar quando o final de algo não era o esperado por mim. Sou daquelas que faz caretas, que ri e sofre quando lê. Esqueço da vida. 
Alguns livros tem passagens que me marcaram profundamente. E, muitas vezes, partes do que li me voltam à memória. 
Uma das leituras que me marcou foi o Diário de Anne Frank, li na adolescência . Lembro que a cada trecho eu pensava: como alguém tão nova pode escrever tão bem e tocar nossa alma?  Criei uma empatia imensa com a personagem e sofri junto. Ainda mais por se tratar de algo real. Há uns dois anos, li um livro chamado A bibliotecária de Auschwitz, que também me tocou profundamente. E em determinado momento cita a chegada de Anne ao campo de concentração e me fez recordar com toda força aquela leitura da minha adolescência. Já li bastante livros sobre a temática. E creio que é importante não nos esquecermos dessa parte da história tão pesada e triste, para que não se repita. 
Nesse momento, estamos isolados em casa. Mas diferentemente do que ocorreu na Alemanha, não estamos sendo maltratados, subjugados, discriminados. Estamos nos protegendo de um vírus que está deixando muitos mortos e doentes. É um pedido para que fiquemos em casa e só saiamos quando estritamente necessário, 
Lembrei muito dos livros sobre o holocausto, por conta da família de Anne ficar escondida meses  em um sótão, para não serem mortos. Ou se isolavam, se escondendo, ou eram mandados para os temidos campos de concentração. 
E lembro de outras cenas de diversos livros em que as pessoas ficavam felizes por acharem um casca de batata para comer, de terem recebido um dente de alho e terem saboreado como se fosse um chocolate importado caríssimo ou de não terem absolutamente nada para comer mas estarem gratas por estarem vivas. O que me deprime nesse momento, lembrando dessas histórias, é saber que há pessoas que possuem alimento e conforto em casa e insistem em sair para a rua, sem se preocupar em adoecer ou deixar quem está ao seu redor doente. Nos relatos dos livros sobre o que o Nazismo fez com os judeus, li tanto sobre pessoas buscando sobreviver a tudo de mais cruel que ocorreu com elas, que fico indignada com o desprezo pela vida que muitos apresentam.
Mas entendo também que em muitos casos há aquele sentimento de negação: " Não quero ver". "Não quero falar sobre". "Não quero me comprometer". "Quero viver o momento hoje"." Estou bem e é isso que importa". - Porém, quando o arrependimento chega, pode não haver mais tempo.

Eu quero tanto viver bem com meus filhos e familiares. Quero estar com os meus amigos . Quero estar com os meus alunos . Quero as pessoas vivas, crescendo e progredindo.

Que nossos anjos protetores possam estar ao nosso lado , cuidando para que todos passemos por isso e fiquemos bem. Que possamos aprender a respeitar a natureza, o mundo em que estamos, zelar por nossas vidas  e valorizar o 'ser' em  lugar do' ter'.  


quarta-feira, 1 de abril de 2020

Devaneios


Acabou a pandemia.
Num passe de mágica.
O presidente falou : saíam na rua. E todos saíram. Não aconteceu nada. 
Em vez de adoecermos, nos curamos imediatamente.
Nossas contas foram pagas pelo governo, que ainda depositou a mais para gastarmos como quisermos.
A despensa de todos está cheia.
Nenhum material falta nas escolas.
Hospitais tem pessoal e material suficientes. 
Boletos a vencer já foram quitados pelo governo.
A corrupção e as mentiras dos políticos acabaram.
As drogas já não fazem efeito, os livros e o gosto pelo estudo tomou o lugar dos alucinógenos. 
A polícia inventa brincadeiras para passar o tempo com as crianças, já que os bandidos simplesmente viraram poetas, músicos e artistas de circo.
Professores passaram a ser valorizados.
Prisões viraram bibliotecas.
Presos se redimiram e trabalham para um mundo melhor.
O consumismo deu lugar a ações de reuso e compartilhamento.
A poluição se foi. 
O céu está mais azul. Há mais flores e pássaros.
O amor deu lugar a todo ódio.
A cura se faz em todos lugares e para todas as doenças.
Os indígenas voltaram a ter seus espaços, sem serem incomodados.
A economia vai bem.
O salário de todos é ótimo.
A inveja não existe mais.
O mal se dissipou como se nunca tivesse existido.
Somos uma só nação no mundo.
Não há mais lugar para o ódio.
As traições não existem mais.
Respeito é a nova ordem mundial.
E hoje é primeiro de abril.
Infelizmente.